quinta-feira, 22 de outubro de 2009

o avesso do tropeço, por dário teixeira cotrim

O Avesso do Tropeço, de Gilberto de Abreu, é uma “caixinha” repleta de doces fantasias. De linguagem de fácil entendimento, as palavras brotam em meio aos riscos e rabiscos de uma imaginação fértil, de sentido coerente e de rumo correto. No tropeço diário das nossas loucas alucinações, diz o poeta que “de onde estou sinto a vibração das pessoas com a minha pessoa em ondas mentais que meu corpo capta”. Ora, pode a poesia, como pretende o autor neste seu importante trabalho literário, ser um simples rabisco de caneta e ser também capaz de transformar o mundo fazendo-o virar ao avesso das coisas. Nota-se bem que é do poema imaginário que se faz mensageiro com a palavra de Gilberto de Abreu. E, do mesmo modo, o coloca no plano da arte com arte, com inspiração e sabedoria literária, sem ser a sua escrita um monte de versos estáticos e frios. A arte pela arte estimula o leitor de Gilberto de Abreu a fazer uma viagem fantástica ao mundo das suas doces fantasias. O poeta nos afirma que “tudo que é assim pode ser como é/ tudo que é poder ser assim/ tudo o que passou não volta dá a volta no que foi/ e o que foi não é era e já era”. A criação neste caso não para por aí. Gilberto de Abreu está em dar a poesia o sinônimo de poema, assim como nós verificamos em “Mar pra quê?!”. Vejamos então: “sob o sol frio e matinal/ desse inverno/ cortei as minhas unhas/ partículas de mim/ vão descer na enxurrada/ da próxima chuva/ as extremas/ extremidades/ dos meus membros/ talvez um dia consigam/ chegar ao mar”. Veja bem que “o limite [aqui] é pessoal e intransferível”, sem, contudo, isentar-se de quem quer que seja de suas extremidades artísticas. Na poesia pode-se ir a um lugar mais distante. Se na escrita de Gilberto de Abreu só existisse a poesia ela mesma deixaria de ser poesia. Mas, há muito mais do que poesias no opúsculo O Avesso do Tropeço. Há criatividade, beleza de forma, nas construções de seus versos tem a exatidão na terminologia das palavras. Há, também, nos seus versos livres, ou na sua prosa poemática, uma definição da poesia sobre a violência. A “poesia é o não é do suspiro da arma após o tiro” ou a “poesia é o grito de alerta da barguilha aberta”. Evidentemente que o livro de Gilberto de Abreu, tão pequenino no seu tamanho e tão gigante no seu conteúdo, tem na sua bagagem uma série de valores necessários à formação de uma nova geração. Tudo isso, e tão somente isso, já justifica a sua peculiar ossificação. Alguém dirá, contudo, que o livro de poesias de Gilberto de Abreu tem as características de uma literatura ingênua (inocente). Pois muito bem, ele tem desenhos infantis, figuras infantis, fotografias infantis, riscos e rabiscos infantis, assim como são os livros infantis. Isso é bem verdade! Entretanto, está no seu bojo um profundo senso crítico, disciplinado, isento de dogmas, de escolas e de sistemas literários, senso crítico de um protesto contundente, sério e oportuno, uma vez que o “trem da obediência” anda descarrilando vez por outra dos trilhos na retidão da vida. Assim é o interessante – e pequenino – livro O Avesso do Tropeço. Um livro de boas vibrações como o autor mesmo me disse na dedicatória. Uma coisa é fazer, na poesia, um livro sem querer fazer; outra, o livro de poesia com poesia. A obra literária de Gilberto de Abreu é um livro de poesia com poesia. Abrindo-o ao avesso, deixando se encontrar a primeira capa com a quarta capa, nota-se que a ilustração contida ali é uma imagem diante do espelho. Esta é a razão de ser de nossas vidas espelhadas. E assim sendo, no avesso do tropeço há é um belíssimo livro de poesia. Portanto, parabéns Gilberto! -- - - Dário Teixeira Cotrim Diretor da Biblioteca Pública de Montes Claros Academia Montes-clarense de Letras Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.